quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Devaneios Rubros


Acendo um cigarro. No meio da fumaça, avisto-a, dançando. Seus movimentos são doces, suaves e harmônicos. O ritmo é de pura nostalgia e sedução. Um pintor diria que nunca teria visto uma imagem tão linda e nem pintaria por medo de ser um pouco menos do que era.

Vodka, tequila ou uísque? Já nem lembro o que pedi. A música me embala, e me lembro de chamá-la. Pergunto se quer dançar. Ela retruca dizendo que bebi demais. Que se exploda. Garçom, eu quero outra!

Fumo. Vejo-a tirar de dentro de sua bolsa um batom vermelho. Tentação. Ela então avermelha os seus lábios. Sinto que quero outra bebida. Será que ainda aguento? Pergunto a ela que música é essa. Me ignora de uma forma mentirosa. Acho que está me atiçando.

Este cigarro já está acabado. Pego outro. Acendo. Ao exalar a doce fumaça do tabaco de meus pulmões, sinto um toque em meu ombro. É um amigo me dizendo que bebi demais. Pára! Me deixa em paz! Chame essa senhorita para me contar mentiras. Lindas mentiras.

Levanto desnorteado e, em direção ao banheiro, a avisto, contando as minhas mentiras para outro. A obscura voz da minha inconsciência me avisa que ela mentiu pra mim. As luzes do bar, de forma brusca, contraem uma cor avermelhada, misturada com roxo. Vejo-a dançando com a sua saia longa, cheia de rachas, jogando o seu cabelo pro lado, preso por uma rosa vermelha.

Tolos pensamentos. Tolas ilusões com gosto de pecados. Já não ouço mais a música que aquela senhorita dançava. Dentro do banheiro, vejo um cego, comentando sobre a minha musa dançante. Como ele poderia saber sobre os doces lábios, as mãos macias, a língua atrevida dela?

Encosto-me no bar. Mais uma daquela, por favor. Ela continua a dançar. Pego outro cigarro. Os movimentos são deslumbrantes. Com a cabeça erguida, cada passo é estonteante. Admiro a sua forma de dançar. Fico tão apaixonado pela sua calma. Ai! Me queimei com a brasa.

Não lembro o que vim fazer aqui. Acho que foi para beber, apesar do efeito da embriaguez nunca ter passado. Lembro que quero falar com ela. Tão bela. Grito por ela. Digo como a noite é dela. Será que podemos nos encontrar outro dia? Quero que você seja minha. Não quero me sentir distante de ti.

Ela se aproxima, me fascina. Seu olhar penetrante, seu andar vislumbrante. Minha cabeça dando voltas, não sei o que fazer. Ela, com seus lábios carnudos, sussurra em meu ouvido com o doce timbre de sua voz. Me beija, me beija muito. Fecho os olhos. Sua boca está gelada e sinto um bafo. Um bafo de bebida. Sua cara parece achatada. Não era isso que eu esperava. Sua língua bloqueia a passagem da minha. Por que isso aconteceria? Tento abraçá-la, mas não consigo. Meu rosto chega a arder. Percebo que há vários meios para se ver uma imagem. Sinto-me até inspirado. Embriagado, em busca de amor.

Ouço o garçom me chamar, dizendo que o bar está para fechar. Eu quero só mais uma, seu garçom. Por favor, bote de novo aquela música. Aquela música que me fez alucinar. Aquela que me fez acreditar. Aquela que me deixou a sonhar. Bote de novo aquela música, aquele bolero, que faz com que eu queira amar. Bésame Mucho, garçom!



Victor Cabral Arthur - 2009
(inspiração -> Reynaldo Brovini)